REABILITAÇÃO/ALTERAÇÃO DE USO EDIFÍCIO NA RIBEIRA
O objetivo deste trabalho foi o viabilizar a reconversão de dois edifícios devolutos estrategicamente localizados na zona da Ribeira do Porto num estabelecimento hoteleiro.
Trata-se de um conjunto de dois edifícios interligados onde funcionaram os Armazéns do Grémio dos Armazenistas de Mercearia do Porto e que terão sido intervencionados na década de 1960, de maneira a substituir os pavimentos até então de madeira e ferro por uma estrutura de betão armado, sendo esta a última intervenção conhecida até então.
Apesar do bom estado geral dos dois edifícios, face à idade dos mesmos, as instalações elétricas encontram-se perfeitamente obsoletas, não sendo por isso possível qualquer aproveitamento do existente.
Foto 1 : Implantação dos edifícios
O programa de arquitetura prevê então a reconstrução dois dois edifícios já interligados, um com 5 pisos e outro com 4 pisos, num total de 52 quartos, com o seguinte programa:
– R/C, comum aos dois edifícios, ocupado pela entrada, receção, sala de estar restaurante, cozinha, zonas técnicas e 4 quartos na edifício posterior;
– 1º ao 3º Piso com 7 quartos por piso em cada edifício;
– 4º Piso com 8 quartos (6 no edifício anterior e 2 no edifício posterior);
– 5º Piso com 2 quartos (no edifício anterior)
Partindo do pressuposto que a alimentação necessária poderia ser fornecida em baixa tensão (por comparação com outros trabalhos semelhantes já desenvolvidos), o desafio inicial consistia em analisar as condições de viabilidade de alimentação de energia elétrica uma vez que a disponibilidade de espaço para a instalação de um Posto de Transformação de Distribuição seria um entrave caso houvesse necessidade do mesmo.
Assim, após uma visita às instalações existentes, constatamos a existência de três entradas de energia distintas, uma para o conjunto dos dois edifícios e outras duas para outras tantas lojas sitas no rés-do-chão da entrada principal do edifício, uma das quais à data ainda estava em funcionamento.
Este facto foi relevante como veremos a seguir, já que no programa da reformulação em curso só seria necessário uma entrada de energia, pois as lojas eixariam de existir, passando a ser a totalidade espaços da unidade hoteleira.
Foto 2 : Alçado principal
A nossa estimativa foi de que seria preciso uma potência na ordem dos 100 KVA para satisfazer as necessidades de todo o edifício, valor este obtido pela análise do programa preliminar de arquitetura ( a existência de cozinhas e bares, lavandaria, zonas técnicas, elevadores e monta cargas, etc.), por avaliação prévia das potências necessárias aos equipamentos de AVAC e por comparação com outros trabalhos idênticos.
Estávamos pois em condições de estabelecer contacto com o Operador de Rede (ORD) no sentido de analisar as condições de fornecimento da potência necessária.
Após reunião preliminar com o ORD, concluiu-se rapidamente que, por agregação da potência até então disponível para as 3 entradas distintas numa entrada unificada, era viável a alimentação em Baixa Tensão com recurso às infraestruturas da rede existentes no local.
Ultrapassado este ponto crítico, passou-se de seguida à fase de elaboração do projeto de licenciamento, necessário não só para obtenção da licença de construção camarária, mas também para a tramitação necessária junto do ORD e consequente aprovação pela Entidade Inspetora de Instalações Elétricas (EIIEL).
O Projeto de Licenciamento seguiu as diretrizes então tomadas em fase de estudo prévio, onde por exemplo foram acordadas com a arquitetura a localização da entrada de energia, as localizações de quadros elétricos, os ductos para as canalizações verticais principais, zonas técnicas, etc.
Tratando-se de uma reabilitação de dois edifícios existentes, a solução de arquitetura previu a manutenção dessas duas estruturas independentes, mas agora com comunicação ao nível de todos os pisos, privilegiando assim o funcionalidade da utilização dos espaços.
Foto 3 : Interligação entre os dois edifícios
Colocou-se então a questão de qual seria a melhor arquitetura de rede, atendendo a que na presença de dois edifícios interligados, seria necessário assegurar o corte geral de energia por piso.
Na verdade, uma vez que cada piso, acima do pavimento, é compartimentado em duas zonas corta-fogo, não é aplicada a regra indicada nas RTIEBT (Regras Técnicas das Instalações Elétricas de Baixa Tensão – Portaria n.º 949-A/2006 de 11 de Setembro) , secção 801.1.1.4.4 que obriga à existência de um quadro que desempenhe, para esse piso, a função de quadro geral de entrada, com base no disposto na alínea a) da secção 801.1.1.4.5 das mesmas RTIEBT.
Assim a escolha para a distribuição de energia recaiu no estabelecimento de duas distribuições verticais, uma por cada edifício, alimentando um quadro geral por piso para cada edifício, capaz de garantir o corte de energia com a atuação dos interruptores gerais de entrada dos respetivos quadros de piso, os quais deverão possuir características que o permitam.
Outro problema identificado desde o Estudo Prévio foi a necessidade da existência de um grupo gerador de segurança e a sua possível localização, uma vez que iriam existir cargas afetas à segurança que obrigatoriamente teriam de ser alimentadas com recurso a um grupo gerador.
Também foram logo excluídas outras necessidades de alimentação em socorro, não só porque obrigariam à existência de um segundo grupo gerador (de socorro), mas também porque analisada a fiabilidade da rede pública na zona se revelava um investimento desnecessário.
Assim, em funcionamento normal o Quadro Geral de Entrada(Q.G.E.) é alimentado em baixa tensão a partir da rede pública de distribuição de energia, o qual por sua vez alimentará todos os restantes quadros da instalação, como se indica no diagrama de alimentação de energia onde é apresentado um esquema da alimentação dos diversos quadros da instalação, representativos dos consumidores mais significativos.
Em caso de falha do abastecimento normal de energia, o grupo gerador de segurança (G1) entrará em funcionamento, alimentando apenas as cargas afetas à segurança. A transferência de cargas automática é realizada através de um grupo de interruptores motorizados tetra polares.
Foto 4 : Diagrama da distribuição de energia
Dado o programa apertado da arquitetura e ao facto de se tratar da reabilitação de um edifício numa zona consolidada, com uma fachada principal sem possibilidade de alteração, e onde se pretendiam valorizar e aproveitar tanto a fachada principal como a cobertura do edifício, tornava-se difícil “encaixar” um grupo gerador que forçosamente tem de estar em comunicação com o exterior.
A solução de compromisso foi a dividir em altura o espaço destinado aos resíduos sólidos, na parte posterior do edifício, possível graças ao seu generoso pé-direito, colocando assim o equipamento na sua parte superior, acessível desde o exterior através de uma escada amovível.
Foto 5 : Compartimento do grupo gerador por cima do compartimento dos resíduos sólidos
O Projeto de Licenciamento foi então submetido à apreciação, dando entrada no ORD que após a viabilização da potência previamente acordada, o fez seguir para análise à EIIEL.
Após a aprovação do mesmo, passou-se à fase do projeto de execução, onde foram detalhadas as diversas instalações de utilização.
Foi decido após análise técnico/económica a não opção por sistemas de domótica, recorrendo no entanto a sistemas baseados em detetores de movimentos/presença para o comando da iluminação em zonas de circulação e em zonas de presença esporádica, de maneira a reduzir o consumo desnecessário de energia.
Sendo a iluminação um fator determinante no conforto e imagem que se pretendia dar a esta unidade hoteleira, foi efetuado um estudo pormenorizado, em coordenação com a arquitetura e a decoração de interiores, que visou otimizar a iluminação nos diversos espaços das zonas de público, criando cenários confortáveis adequados à utilização prevista.
Foto 6 – Pormenor da instalação de iluminação e tomadas na cabeceira dos quartos
O comando de iluminação no interior dos quartos foi pensado para um funcionamento fácil e intuitivo para qualquer utilizador, com base em telerruptores, permitindo o comando em qualquer ponto através de simples botões de pressão.
Um requisito importante era o de garantir o “switch-off” geral a partir da cabeceira da cama, que desta forma foi fácil de implementar.
Foto 7 : Esquema elétrico do quadro do quarto tipo
Para além dos quartos, foi dada especial atenção a toda a iluminação nas zonas comuns do edifício, assim como também na fachada do mesmo, que apesar de se localizar numa rua dotada de iluminação pública, se pretender dar notoriade e destaque, através de uma iluminação sóbria, mas moderna, com base em tecnologia LED.
Foto 8 : Esquiço da iluminação prevista para a fachada
A coordenação e integração com as restantes especialidades foi efetuada e assegurada para que no final todos os equipamentos venham a funcionar de acordo com o esperado, e de forma a superar as necessidades espectáveis aos seus utilizadores, mas claro, sempre em segurança.
A inauguração está prevista ainda para este ano.
Foto 9 : Imagem da fachada já remodelada
Rui Manuel Torres de Sousa Marques
Engenheiro Eletrotécnico
Membro Sénior da Ordem dos Engenheiros
rui@sousa-marques.pt